RIACHOS E AS SUAS ALCUNHAS
Na tradição popular riachense está fortemente implantado o uso de alcunhas, ou apelidos, se assim lhes quisermos chamar.
De tal forma que, ao proceder à sua recolha – por achar interessante este aspecto dos costumes da nossa gente – me surpreendeu o seu elevado número.
A sua origem perde-se no tempo! Porém, a julgarmos pelas mais recentes, as que porventura ajudámos a criar, concluímos que quase sempre são motivadas por coisas sem importância, por pequenos nadas: um dito inoportuno ou um simples tique nervoso; porque se é gordo ou excessivamente magro, se tem mau feitio ou se é borracherão; porque se tem um defeito físico ou até pela cor da pele. Mas também, por acções que nada prestigiam aquele que as pratica.
A verdade é que muitas vezes se é mais conhecido pela alcunha que pelo próprio nome.
E se há quem não aceite com agrado, também há quem não a dispense e a use para melhor se identificar.
Consta que um patrício nosso disse, com certa brejeirice, a alguém que, devendo dirigir-se a sua casa, não sabia bem onde ficava:
– Quando chegar ao «Riachos» pergunte pelo mocho que não há lá mais nenhum!
Sabendo-se que em Riachos ninguém ignora a base de malícia que aquela expressão contém, todos os riachenses a usam, de facto, com malícia, aquele homem assumia a sua alcunha com a maior naturalidade. Entendia, e bem, que as alcunhas só desprestigiam se quem as profere o faz maldosamente, com intenção de ofender o seu semelhante.
Diga-se, de resto, que algumas assentam que nem uma luva. E quando assim é, propagam-se como o fogo; correm de boca em boca e não há quem as detenha. O melhor, então, é cada um acomodar-se à que lhe coube em sorte. Quanto mais a repelir mais ela se lhe agarra. E o povo, na sua sabedoria, diz que as alcunhas não carregam!...
Mas já me alonguei, quando o queria era deixar aqui bem claro que, ao proceder à sua recolha, me não moveu a menor intenção de melindrar seja quem for. Algumas dessas alcunhas assentam em pessoas minhas amigas e até em familiares meus. As outras, TODAS, em pessoas que respeito. Penso que todos saberão entender que este hábito de alcunhas é um dos aspectos do nosso folclore, da nossa cultura.
Mas, para os mais susceptíveis de melindre, aqui fica o pedido de sinceras desculpas.
1
Há gente que se desunha
Só porque tem uma alcunha
Mesmo que posta sem mal;
Mas a alcunha é marcante
E o nome, mesmo sonante,
Ao pé dela nada vale!
2
E vejam bem este rol
A Borrega, o Espanhol,
O Velhoz, a Cauteleira,
Manjerico, João Bucha,
Taberna e Estrabucha,
Toca a Caixa, Tamanqueira
3
Poupa, Panças e pão mole,
O Laparito, o Linhol,
Fada, Feio e Ferrador,
Pipa, Petinga, Paloca,
Anafil, Bilda, Patoca,
O Alçamassa, o Actor.
4
Balsa, Besoiro e Bicho,
Pé Leve, à Noite, Pilricho,
Tanga, Toutiço, Tonicha,
Santa Sério e Sérita,
Ginja, Jóia, Palalita,
Taretachota, Taricha.
5
Arganil e Alfaiata,
Galego, Grilo e Gata,
Couve Couxa, Carquejal,
Beiça, Bruto, Bacalhau,
Carulho, Cara de Pau,
Meio-Litro, Natural.
6
Diabo e Marinhais,
Mágoa, Mokuna, Nadais,
Saramago, Sem Pescoço,
Cara Suja e Carica,
Balalaica, Neco, Bica,
Quilhocas, Doutor Caroço.
7
Carrucho, Pincha, Craveiro,
Esfola Gatos, Azeiteiro,
Cica da Borra, Charela,
Falifa, Fadango, Fole,
Panela, Maduro, Sol,
Perra, Policia, Varela.
8
Sapata, Severo, Micas,
Servata, Saboga, Nicas,
Borracho, Machorro, Rato,
Mestre, Melro, Manelão,
Zé Padre e Sacristão,
Zé Chofer, Fala Barato.
9
Zé gordo, Zampa, Zibrina,
Vila Verde, Vitamina,
Arraia, Giga, Zezão,
Rói Merda e Retornado,
Lainço, Açorda, Passado,
Ilha, Abóbora, Baião.
10
Marganiça, Maçacoco,
Seda, Sujo e Recoco,
Fado Novo, Farinheira,
Bochecha, Bonga, Canhoto,
Alho, Mija e Piloto,
Lexívia e Lavandeira.
11
Reco-Teco, Carapuça,
Perna-Atrás, Pedro Lambuça,
Ruça, Razões e Caréu,
Calento e Caralhana,
Pé de Rodo e Parrana,
Vaca, Vicio e Piréu.
12
Guerra, Pateta, Póquita,
Laulila, Tirabolita,
Toureiro e Periquito,
Meta, Veloz e Canum,
Bagaceiro e Capadito.
13
Cuca, Chicharo, Pistola,
Coelha, Pancho, Parola,
Brutamontes, Chuta, Coxo,
Cambóia, Mouco, Doninha,
Mal Casado, Trigolinha,
Alcofa, Pinto e Mocho.
14
Girassol, Gancha, Feião,
Pipi-Eléctrico, Ingrão,
Penacha e Parvalhaça,
Bichaneira e Branquinho,
Bronze, Mona e Passarinho,
Nino, Barrão, Caralhaça.
15
Verruga, Cimento Armado,
O Alavanca, o Torrado,
Sarra Cornos, Cheira Lata,
Come Tudo, Chica Boa,
Ti Luiso, Alagoa,
Santo Antoninho, Batata.
16
El Rodriguito, Miola,
O Sobe e Desce, o Chirola,
Salabardo, Ventaneira,
Verdade, Quinze, Gaiteiro,
Marzia e Nevoeiro,
Maconca e Macieira.
17
Grande, Airoso, Tentilhão,
Gago, Mudança, Mação,
Sapa, Tição, Zé Pincel,
Fresca, Malóis e Boneca,
Nossa Senhora, Careca,
Lontro, Arroja e Pastel.
18
Morte Branca, Travadinha,
Mata o Pai e Avezinha,
Menino de Deus, Párrita,
Pim-Pim, Veneno, Tambor,
Esticadinho, Pastor,
Champalimaud, e Paíta.
19
Pilha Galinha, Viola,
Zé dos Macacos, Pichola,
Tarruta, Casamenteira,
Lisboa e Carguilenha,
O Titilirute e o Nhenha,
Forja, Peles, Brasileira.
20
Bago de Milho, Africano,
Zé das Obras e Cigano,
Zé Ruim, Ralo, Ti Tonho,
Renana, Miga, Palmeta,
Bota Abaixo, Rabaneta,
Pé Torto, Pêra, Zé Gonho.
21
Lembel, Quimbrão e Lavada,
Chibanga, Gato, Cagada,
Zé Trinta, Xicão, Tosquinha,
Kopa, Arego, Fura-Feno,
Rabé, Pegacho, Sereno,
Cicharro, Estoque, Galinha.
22
Vareta, Triste, Pirisca,
Paneireiro e Petisca,
O Concertina, o Moita,
Seruga e Rés do Chão,
Salitrosa, Narigão,
Picha de Lata, Mosquita.
23
Vadio, Porrete, Actual,
Marranconho, Carnaval,
Chavelharia, Lapão,
Pivete, Alcorriol,
Alistar, Zé Bom, Macol,
Vira Milho e Picão.
24
Cu da Mula e Gigante,
Grincho, Tapada, Presante,
Bate Estacas, Albardeira,
Bonanza, Insiste, Pau Preto,
Manha, Faísca, Gineto,
Abrenúncio, Cascalheira.
25
Tubarão do Tejo e Bola,
Zé Velho, Ameixa, Carola,
Calça Arregaçada, Marquês,
Piquinha e Sabichão,
Catrino e Zé Mancão,
Preta, Pachão e Inglês.
26
Talvez haja outras tantas,
Mas ninguém sabe quantas
Há ao certo por ai,
Por ser já bonita a conta
Dou a lista como pronta,
Vamos ficar por aqui!...
de: DIAMANTINO ALMEIDA
http://masofi-01.spaces.live.com
Sem comentários:
Enviar um comentário